Nem mesmo o maior
escândalo da história do futebol mundial foi capaz de tirar o poder de Joseph
Blatter. Apenas dois dias depois de ver cinco executivos e sete dirigentes da
FIFA serem presos pelo FBI acusados de extorsão e corrupção, o suíço de 79 anos
confirmou o favoritismo e foi reeleito pela quarta vez à presidência da
entidade que comanda o esporte mais popular do planeta. Durante o tenso 65º
Congresso da FIFA, nesta sexta-feira (29), Blatter superou o seu único concorrente,
o príncipe jordaniano Ali Bin Al-Hussein, por 133 votos a 73 e garantiu a
permanência no cargo até 2019.
A eleição de
Blatter não se consolidou exatamente no primeiro turno. Isto porque, de acordo
com o regulamento da FIFA, para que a escolha fosse definida nesta parte do
pleito, um dos candidatos precisaria alcançar dois terços dos 209 votos (140
indicações). E este número por pouco não foi atingido. O suíço ganhou 133 dos
206 votos válidos e ficou a apenas sete do triunfo direto. Mas antes que
houvesse o segundo turno, no qual os candidatos precisam de maioria simples
para triunfar, Ali Bin Al-Hussein se deu por vencido e renunciou à candidatura.
Este será o quinto
mandato de Blatter na presidência da FIFA. Ele foi eleito pela primeira vez em
1998 – sucedendo ao brasileiro João Havelange – e, desde então, ganhou quatro
pleitos. O último em que havia chegado ao dia da eleição com um concorrente?
Foi o de 2002, no qual bateu o camaronês Issa Hayatou. De lá para cá, o homem
mais poderoso do futebol conseguiu uma ampliação de mandato (até 2007) e venceu
dois pleitos como candidato único (2007 e 2011).
A vitória de
Blatter nesta sexta-feira, então, é simbólica, mas, ao mesmo tempo, mostra ao
planeta que o suíço já não é mais tão poderoso quanto antes. Afetado
diretamente pelo escândalo de corrupção estourado há dois dias, o dirigente viu
Uefa e Estados Unidos o atacarem e só foi reeleito pela força que ainda possui
junto a Concacaf, Ásia e África. Para se ter noção, até mesmo a Confederação
Asiática de Futebol (da qual a Jordânia, país de Ali Bin Al-Hussein, é membro)
declarou apoio a Blatter.
A quarta reeleição
de Joseph Blatter acontece em um dos momentos mais cruciais da história do
futebol. Desde 1998, quando assumiu a presidência da FIFA, o suíço nunca havia
corrido tantos riscos de perder o cargo como agora. Isto porque a prisão de
cinco executivos e sete dirigentes da entidade na última quarta-feira, em
Zurique, ajudou a arranhar ainda mais a já desgastada imagem do mandatário de
79 anos.
A operação do FBI,
feita em conjunto com a polícia suíça, expôs casos de corrupção, extorsão,
escândalos de irregularidades em contratos de marketing e de direitos de
televisão e pagamentos de propina no processo de escolha das sedes das Copas do
Mundo de 2018 e de 2022. Blatter ainda não teve o seu nome envolvido nas
denúncias, mas viu a pressão sobre si aumentar consideravelmente.
Tudo começou ainda
antes de a investigação da Justiça americana ser revelada. Na semana passada,
Luís Figo e Michael van Praag retiraram as suas candidaturas à presidência da
FIFA. Os dois, opositores a Blatter, detonaram o processo eleitoral da entidade
e optaram por desistir do pleito para não dividirem votos com Ali Bin
Al-Hussein. “Este é um plebiscito de entrega do poder absoluto a um só homem”,
atacou o português.
Depois, com as prisões de dirigentes da FIFA em pleno hotel Baur au Lac
dois dias antes do pleito, Blatter passou a receber ainda mais pressão.
Primeiro, Diego Armando Maradona o desafiou a conseguir a reeleição. Depois, a
Uefa declarou apoio à oposição e pediu a saída do suíço. Por fim, o jornalista
investigativo Andrew Jennings, que cedeu ao FBI os documentos cruciais para as
detenções, revelou que o atual presidente da entidade era o próximo alvo. Foto:
Divulgação Conmebol