O Presidência da República
gastou R$ 8 milhões em quase um ano do governo Jair Bolsonaro, apontam dados
obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo via Lei de Acesso à Informação (LAI).
As despesas englobam viagens do presidente e de servidores em apoio ao Planalto
para dentro e fora do País. Somente a última viagem internacional ao Sudoeste
Asiático e Oriente Médio gerou, sozinha, uma despesa de R$ 1 milhão aos cofres
públicos.
A Secretaria de Administração, responsável pelas despesas do
presidente e seus servidores no Planalto, não divulga as notas fiscais que
detalhariam como e de que forma os valores foram gastos, impedindo o
detalhamento das despesas. A justificativa é que tais gastos devem ficar em
sigilo até o fim do mandato do atual presidente por questões de segurança. A
praxe é a mesma dos governos anteriores.
A lista encaminhada ao jornal
aponta apenas o valor gasto consolidado em cada viagem feita pela Presidência
entre janeiro a novembro e as datas de ida e volta do presidente e/ou de sua
comitiva. As despesas incluem pagamentos de passagens aéreas, hospedagem,
transporte e alimentação.
Em alguns casos, Bolsonaro
não participou da viagem, realizada por servidores que representavam o
Planalto, conforme aponta sua agenda oficial. Em outros, o presidente
participou da tour, mas permaneceu um período inferior em relação a outros
servidores.
A última viagem internacional
de Bolsonaro registrou sozinha a maior despesa deste ano: R$ 1 milhão em 19
dias, ou R$ 53 mil por dia. A lista de países visitados inclui Japão, China,
Emirados Árabes Unidos, Catar e Arábia Saudita, e foi a viagem mais longa da
Presidência desde a posse. Apesar de ter embarcado no dia 20 de outubro, as
despesas já estavam sendo contabilizadas desde o dia 13 daquele mês.
Em observação, a Secretaria
de Administração informou que essa viagem teve uma "particularidade":
alguns servidores foram deslocados pelos países em voos comerciais, "pois
o quantitativo não era suportado nas aeronaves oficiais".
Procurada, a Secretaria de
Comunicação Social da Presidência da República não repassou dados consolidados
sobre o número de servidores que integraram a comitiva da viagem ao Sudoeste
Asiático. A pasta informou apenas que os nomes constavam no Diário Oficial da União e pediu que
fosse procurada a Secretaria-Geral da Presidência da República. O Estado entrou em
contato com a pasta na última quinta-feira, 26, e aguarda manifestação.
Entre os integrantes do alto
escalão da comitiva estavam os ministros Paulo Guedes (Economia), Onyx
Lorenzoni (Casa Civil), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional),
Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Tereza Cristina (Agricultura), Fernando
Azevedo (Defesa), Bento Albuquerque (Minas e Energia) e Osmar Terra
(Cidadania). Os deputados Helio Lopes
(PSL-RJ) e Marco Feliciano (Podemos-SP) também participaram da viagem, assim
como assessor da Presidência Filipe Martins.
Brasil adentro
No País, o governo registrou
despesa diária semelhante à viagem asiática: em julho, foram gastos R$ 52 mil
por dia na ida de Bolsonaro a Manaus para a entrega das medalhas da Olimpíada
Internacional de Matemática e reunião na Zona Franca de Manaus.
O presidente foi e voltou no
mesmo dia, 25 de julho, ficando menos de cinco horas na capital amazonense.
Apesar disso, as despesas estavam sendo contabilizadas desde o dia 22 daquele
mês e somaram R$ 210 mil.
A maior parte das despesas da Presidência foram com viagens
nacionais, devido à maior necessidade de deslocamento do presidente pelo País.
Foram 37 destinos diferentes em 74 viagens, que totalizaram um gasto de R$ 5,7
milhões em onze meses.
Em um dos casos, uma viagem
de apenas um dia para Goiânia custou R$ 33 mil aos cofres públicos. Na agenda
do presidente para o dia em questão, 31 de maio, consta que a visita foi para
um café da manhã com representantes do poder estadual do Goiás e participação
na Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil, onde se questionou
sobre a possibilidade de um ministro evangélico no Supremo Tribunal Federal. A
comitiva contava com 77 pessoas.
São Paulo, por sua vez, foi o
destino mais recorrente da Presidência. Ao todo, foram 18 idas em quase um ano
para a capital paulista ao custo de R$ 1,7 milhão aos cofres públicos - pouco
mais de 20% do total.
A lista inclui viagens cujas
datas batem com encontro de Bolsonaro com empresários, o período em que operou
para corrigir uma hérnia de disco, logo após o feriado de Sete de Setembro, e
quando foi assistir ao jogo do Palmeiras, em julho. No entanto, com as notas
fiscais em sigilo, não é possível detalhar como e com o que e por quem cada
gasto foi feito. Os documentos devem perder o segredo somente ao fim do mandato
presidencial de Bolsonaro.
Passaporte na mão
No exterior, a Presidência
gastou R$ 2,2 milhões nas dez viagens internacionais realizadas por Bolsonaro
desde o começo do ano. Além do Sudoeste Asiático, responsável por metade das
despesas, o presidente também visitou a Argentina, o Chile e três diferentes
cidades nos Estados Unidos (Nova York, Washington e Dallas).
A ida a Osaka, no Japão, para
o encontro de cúpula do G-20 foi a segunda maior despesa do ano, custando R$
331 mil à Presidência em 16 dias. A viagem foi lembrada pela apreensão de 39
quilos de cocaína com um sargento da comitiva presidencial durante uma parada
na Espanha e pelo acordo comercial firmado entre o Mercosul e a União Europeia.
Apesar de ter sido fechado em Bruxelas, na Bélgica, o pacto teve repercussões
no encontro internacional.
A primeira vez que Bolsonaro
fez uso de passaporte na Presidência, a ida a Davos (Suíça) para o encontro do
Fórum Econômico Mundial, gerou gastos de R$ 278 mil. A viagem foi marcada pelo
discurso de apenas seis minutos e agenda com políticos nacionalistas.