Do início do mandato até
abril, a aprovação ao governo do presidente Jair Bolsonaro caiu mais entre
segmentos da população que resistiram a abraçar sua candidatura à Presidência
da República.
Análise do jornal O Estado de S. Paulo com base nas pesquisas do Ibope
mostra que as quedas mais bruscas na avaliação positiva se deram entre
nordestinos e eleitores com baixa escolaridade e renda. Dentre os que se
enquadram em um desses segmentos e chegaram a manifestar satisfação, boa parte
já pulou do barco. Além disso, o movimento foi mais forte nas capitais.
Segundo Márcia Cavallari, diretora-executiva do Ibope
Inteligência, Bolsonaro chegou a ganhar, logo depois da posse, um "voto de
confiança" significativo mesmo em setores que, na eleição presidencial,
penderam majoritariamente para Fernando Haddad (PT), como os mais pobres e os
nordestinos.
"Nesses segmentos, porém, a identificação com Bolsonaro é
mais frágil", observa ela. "A partir do momento em que o governo
passa pelos primeiros desgastes, essa população manifesta seu descontentamento
de forma mais rápida."
Desde a posse, o governo tem
enfrentado disputas entre "olavistas" (seguidores do escritor Olavo
de Carvalho, considerado guru de Bolsonaro) e militares na definição de
políticas públicas e também dificuldades para construir uma base de apoio no
Congresso - com prejuízo para a tramitação de projetos como a da reforma da
Previdência.
No Nordeste, de cada dez
eleitores que consideravam o governo bom ou ótimo, quatro já mudaram de ideia.
No Sudeste e no Sul, esse movimento também se observa, mas com menor
intensidade: três e dois de cada dez, respectivamente, já deixaram de
manifestar aprovação.
Na segmentação do eleitorado
por renda, a insatisfação cresce de forma mais veloz nas faixas mais baixas.
Entre os mais pobres (que ganham até dois salários mínimos) que aprovavam o
governo em janeiro, um terço já mudou de opinião. Entre os que ganham mais do
que isso e também viam a gestão como boa ou ótima, apenas um quinto alterou
essa percepção.
A queda na aprovação de
Bolsonaro também foi mais expressiva nas capitais. Em janeiro, as taxas de
satisfação nas capitais e no interior eram próximas: 47% e 51%. Em abril,
passaram para 30% e 37%, respectivamente.
Morador de Salvador (BA), o
empresário Vitorino Tourinho votou em Bolsonaro no segundo turno das eleições
de 2018. Hoje, considera o presidente "sem preparo". O empresário
compõe a amostra de eleitores que chegaram a aprovar o governo Bolsonaro e, com
o passar do tempo, passaram a ver a sua gestão com ressalvas.
"Sou Bolsonaro por
circunstâncias", diz Tourinho. "O capitão é, na verdade, um soldado,
um cara que não tem preparo. Já vimos várias atitudes que demonstraram isso,
como o tuíte do golden shower (publicação de Bolsonaro que mostrava um homem
urinando em outro durante bloco de carnaval), as brigas com o vice-presidente,
a interferência dos filhos. Eles estão jogando contra."
Polarização
Na média nacional, a
avaliação positiva do presidente caiu 14 pontos porcentuais desde o início do
governo. Isso significa que, de janeiro a abril, a parcela dos brasileiros que
consideravam a gestão boa ou ótima diminuiu de 49% para 35% (mais informações
nesta página). A aprovação teve queda em todos os segmentos de renda,
escolaridade, local de moradia e gênero - mas não no mesmo ritmo.
No segundo turno de 2018,
Bolsonaro perdeu para Haddad na metade mais pobre da população. No mapa
eleitoral, ele venceu em todas as regiões, menos no Nordeste. Diferenças nos
padrões de voto conforme os fatores renda e geografia ficaram evidentes.
Passada a posse, a primeira pesquisa do Ibope mostrou uma suavização da
polarização geográfica e de renda. No Nordeste, em janeiro, o governo era
aprovado por 42% - sendo que, meses antes, ele havia obtido só 28% dos votos
totais (incluindo brancos e nulos) no segundo turno.
No Sudeste, a aprovação
era de 50% - antes 57% de votação de Bolsonaro no segundo turno. Ou seja,
eleitores do Sudeste e do Nordeste discordaram muito na eleição, mas pouco após
a posse. As informações são do jornal O
Estado de S. Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário